“Era uma vez o dia em que todo dia era bom. Delicioso o gosto e o bom gosto das nuvens serem feitas de algodão. Dava pra ser herói no mesmo dia em que escolhia ser vilão. E acabava tudo em lanche, um banho quente e talvez um arranhão. Dava pra ver a ingenuidade e a inocência cantando no tom, milhões de mundos e universos tão reais quanto a nossa imaginação. Bastava um colo, um carinho, e o remédio era beijo e proteção. Tudo voltava a ser novo no outro dia, sem muita preocupação”. E a minha parte preferida: “É que a gente quer crescer e quando cresce quer voltar do início, porque um joelho ralado dói bem menos que um coração partido”.
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A poesia de Keylla Cristina dos Santos Batista, na voz afinadíssima de Kell Smith, muito mais do que uma belíssima canção, é um retorno ao passado, uma visita à infância, um mergulho na história que cada um carrega. A vida é uma viagem interminável, mas com muitas paradas. Cada estação é um ciclo, e cada ciclo é uma oportunidade de aprender, enfrentar desafios, superar obstáculos e continuar a jornada.
Quem um dia não contemplou o céu e ficou procurando a sua estrela? ou não tentou descobrir as diferentes imagens que as nuvens iam desenhando na tela do firmamento? Quem não chorou para pedir o alimento que chegava na alma antes de chegar na boca? Ou não choramingou só para ganhar um mimo ou o colo que aquecia, protegia, e levava pra longe todos os medos?
“Dá pra viver mesmo depois de descobrir que o mundo ficou mau, é só não permitir que a maldade do mundo te pareça normal. Pra não perder a magia de acreditar na felicidade real e entender que ela mora no caminho e não no final”.
Nem todas as infâncias são iguais, nem todos os tempos são os mesmos para todos, nem todas as recordações trazem boas lembranças, mas para quem acredita que a vida não termina nesta existência, sempre haverá esperança de recomeçar e construir um novo caminho. Agora e depois.
As lições das catástrofes climáticas
Muitas pessoas, dos mais diferentes setores, tem se manifestado sobre os estragos causados pelas enchentes no Rio Grande do Sul. Desde o final de 2023, abril e maio de 2024 e as mais recentes, deste mês, as catástrofes mudaram a geografia, a economia e a vida de boa parte da população do Estado, deixando um rastro de destruição e de danos materiais e humanos, inclusive com vários óbitos.
Dom Jaime
O arcebispo de Porto Alegre e presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, CNBB, tem expressado grande preocupação com o problema. Dom Jaime Spengler cobrou responsabilidade das autoridades gaúchas diante dos estragos e da possibilidade do agravamento da situação. Ele apontou a burocracia, a morosidade e a falta de transparência como grandes entraves, e chamou a atenção para a necessidade de ações que promovam o cuidado com o meio ambiente e a prevenção de futuras tragédias climáticas.
Rincão dos Minello
O tempo urge, como disse dom Jaime. E, às vezes, ruge. Um exemplo disso é o Rincão dos Minello, que pertence a Santa Maria e a Itaara e por onde passa o Arroio Manuel Alves. Formado por cerca de 60 famílias, foi uma das regiões mais atingidas na enchente do ano passado, registrando três óbitos e o resgate de algumas pessoas com ajuda de socorristas voluntários e de helicópteros da Base Aérea de Santa Maria. Algumas famílias só puderam voltar, meses depois, com o auxílio da comunidade.
Geografia
Descendo pela estrada, sentido Itaara-Três Barras, distrito de Arroio Grande, em Santa Maria, a geografia, na descrição de moradores, é: um morro, o arroio, a estrada e outro morro, tudo isso num espaço de cerca de 200 metros. Na enchente do ano passado, o arroio invadiu tudo, com as casas no meio. Quando a água baixou, levou junto pátios, parte das propriedades, instalações elétricas, animais, árvores gigantes da mata (nativa), pedras enormes e tudo que foi encontrando pela frente. O arroio perdeu profundidade, suas margens e aumentou sua largura, ficando sujeito a novas inundações com menos volume de água, como aliás, aconteceu este ano, alagando algumas regiões de Arroio Grande.
Prevenção e desassoreamentro
Voltando mais uma vez ao alerta do presidente da CNBB, esta é uma das regiões que necessitam de ações que promovam o cuidado com o meio ambiente e a prevenção de futuras tragédias. A estrada precisa ser recuperada, principalmente na parte que pertence a Santa Maria, e, em caráter urgente, o Arroio Manuel Alves tem que ser incluído num projeto de desassoreamento.
A árvore e a floresta
Em sua vinda a Santa Maria, ao ser questionado sobre a ponte do Arroio Grande, na RSC-287, o governador Eduardo Leite disse que as pessoas não deveriam olhar somente para a sua árvore, mas para a floresta toda, numa alusão aos problemas do Estado e de cada região. Até se entende a retórica do governador, mas a morosidade, referida por dom Jaime Spengler, quando atinge as árvores, atinge também a floresta.
Solidariedade em alta
Mais uma vez, como em outras grandes tragédias ou calamidades, a mão estendida tem sido o fato positivo. Agentes públicos de todos os níveis tem trocado seus gabinetes pela linha de frente, junto com voluntários sempre dispostos a ajudar os mais necessitados.
A vida continua, nesta e em outras dimensões!